terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

(Rascunho Sem Título II) Noite Adentro, Só

Apesar de estar um tanto exausto; aquele homem de cabelos grisalhos, rosto sorridente, olhos expressivos e uma enorme esperança no pensamento, ia remexendo no interior das algibeiras, nos calções azuis, de ganga cara, à procura de algum bilhete com um número de telefone ou talvez mesmo, tentando sentir o vibrar do seu próprio telemóvel. 
Certamente que passaram mais de cinco horas e outros tantos minutos, e nada, absolutamente nada nem ninguém. «Como é possível, não pode ser verdade!», suspirava, tenso e ansioso. A calma, essa companheira leal que sempre o acompanhara ao longo dos seus mais de quarenta anos de vida, permanecia controlada, embora padecendo de ansiedade.
O castigo prometia conservar-se braço-a-braço, mano-a-mano, de homem para com ele próprio, pelo tempo indeterminado que só Deus o sabia, mas que não revelava tal segredo.
Virou-se para um lado, caminhou um passo curto e tropeçou. Agachou-se e, esticando o braço, apalpou uma fria pedra. Afagou-a e pareceu assemelhar-se a uma forma de banco. Sim, estava perante um cubo granítico, cruelmente mal talhado por um qualquer canteiro que não podemos adivinhar quem, mas que há muito o havia perpetuado. Sentou-se lentamente, lançou o seu rosto na direcção dos cubinhos brancos, agrupados em desenhos com motivos marítimos, espalhados pelo chão que os seus pés pisavam com calmaria e os seus olhos jamais poderiam ver. Ali adormeceu, encostado a uma baixa parede, revestida de era verdejante, aromática e aconchegante, simultaneamente.

***
Acordou, sobressaltado e com uma sede terrível. Ficou atónito e não reconhecia o lugar onde estava. «Onde estou eu?!», perguntava ele ao seu ego. Realmente, estava no centro de uma cidade média, no espaço turisticamente mais frequentado, mas estava assombrado, pois, quando ali foi abandonado era já alta noite e não tinha dado um único passo em qualquer sentido. «Não é possível, ninguém me dirige uma palavra!», divagava, sequioso e angustiado, o homem que havia sido depositado, ali mesmo, na noite que terminara algumas horas atrás. E agora, dali em diante, como iria ser a sua vida?!
Tentou levantar-se, lenta e calmamente, receoso de sofrer alguma queda, situação que agravaria em muito o problema que já carregava naqueles ombros fortes.

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