sábado, 26 de junho de 2010

Dupla Transgressão


A viagem era longa, se fosse levada até ao seu objectivo. Visitar os tios que viviam no outro extremo da Península e que estavam sem se ver há mais de vinte anos. Seus filhos já seriam adultos, talvez até já tivessem casado, ou como agora se usa, juntado os trapinhos, simplesmente.
Os escassos quilómetros que foram triturados pelo automóvel, ao som ruidoso de milhares de pneus que rolavam o asfalto e os iam ultrapassando em fúrias descontroladas, fizeram com que o homem que dirigia ao volante sentisse uns arrepios e sentisse a inadiável necessidade de parar. Assim o fez, encostou a viatura suavemente na berma, deixando espaço para que pudesse ser aberta a porta do lado direito, sem que batesse naquelas barras em aço ao ser aberta, caso houvesse essa necessidade. Imobilizado o veículo em segurança, saiu com cuidado e contornou o mesmo pela traseira, abriu a bagageira, retitou o colete de segurança, vestiu-o, de seguida retitou o triângulo e foi colocá-lo a uma distãncia de algumas dezenas de metros, para maior tranquilidade. Regressou, agora mais tranquilo e dirigiu-se à porta da frente do lado direito. Olhou-a através do vidro e viu uma estrela a brilhar, cintilar, mais parecia a lua em dias de lua cheia; linda, cobiçada...Por instantes  vacilou, aquela imagem percorrera-lhe todo o seu íntimo, deixando-o ainda mais vulnerável à sua condição de humano, sensível, atencioso, amoroso, consolador...Do outro lado daquele límpido vidro, ainda completamente fechado, um olhar apelativo o atraía, chamando-o com rápidos e violentos pestanejos. Neste momento, escassos segundos decorridos, já ambas as correntes sanguíneas transgrediam em velocidades alucinantes, somente permitidas a seres de corações altamente resistentes. E o ansiado aconteceu. Ele entrou no habitáculo, encharcado em suor, deixando de fora aquele calor abrasador de um dia de Verão, tórrido, escaldante e aconchegando-se a ela, num espaço fresco, ambientalmente proporcionado pelas modernices do AC, mas igualmente fogoso, vistas as coisas pelo lado da aproximação que os levara até aquela situação.

(GM LANTERNA ROMÂNTICA 26-06-2010)

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